3.7.09

Desejo inteiro


Sinto-me sufocar.

Sufoco, amarrada à vida que não quero viver mas que não tenho coragem para mudar.

O meu corpo é a prisão onde o ar um dia entrou... até ao momento em que se esgotou. Até este momento em que preciso de respirar de novo. Enquanto luto para vir à superfície, a vida esgota-se em mim.
Sinto-a e vejo-a, à minha frente.
E sei que sou só um corpo privado de se sentir vivo. Sou um corpo animado pelo último sopro, pela última oportunidade de ser feliz. Sou uma sombra do que fui e do que posso vir a ser... se eu tiver a coragem e a força para vir à tona.
E respirar o ar de que preciso.

Quero deixar de ser este corpo preso no fundo, apenas nu e despido de vida, da vida que nos obriga a respirar.
Preciso respirar, preciso rasgar as cordas que me atam porque tudo o que em mim vive tem de respirar. Quero voltar a sentir-me viva, quero porque preciso de voltar a sentir o ar dentro de mim. Preciso que tudo mude, como preciso de respirar, sei que esta luta pelo meu ar é o caminho de saída daqui. De onde não sou feliz.

Quero com todas as forças de cada célula no meu corpo, com este desejo inteiro, emergir e respirar de novo. É com esta força de sobreviver que sei que vou sair daqui.
E respirar.

14.6.09

Insónia


Não durmo.

Não durmo porque não esqueço...

Não esqueço porque não posso,

porque é mais forte que eu este sentir-me assim.

Lá fora a noite passa e dentro de mim um fio de dor que não sei de onde vem,

atravessa-me aguda pelo tempo e pelas memórias fora.

Lembro-me porque não consigo esquecer, que por ti renunciei a tudo.

Lembro-me de termos começado juntos e terminado distantes,

neste espaço nosso que agora é só meu.

Estás por todo o lado e não te encontro em lado nenhum.

E é no meio deste silêncio que o teu abraço me falta.
É nas horas vazias de som que a ausência da tua voz me cala.
É nesta ausência de luz que te procuro e não encontro... mas que te sinto mais perto.

E é neste não dormir e não esquecer constante dos dias que passam

que me convenço que não vens

e me entrego a um sono que não chega.

7.7.08


Às vezes é preciso mudar.

Mudar o que parece não ter solução, voltar a construir do zero, bater com a porta. Sair sem olhar para trás...

Às vezes é preciso apagar da memória todos os momentos, esquecer tudo, partir numa nova viagem, com um novo destino. Que conhecemos ou não, mas que decidimos. Mesmo quando o que mais queremos é ficar, na sensação morna mas já sem sentido, de vivermos no capítulo da nossa história que já conhecemos... mas que já não nos leva a lado nenhum. Na bagagem levo a certeza de que fiz o que podia e sabia, o que julguei mais certo. A consciência tranquila porque fiz como o coração me mandou.

Sinto a vida a quebrar-me e não posso deixar de sentir que não é justo. Sempre lutei e sempre para vencer e não para sobreviver. Vou fazer parar o mundo e deixar de sentir o coração apertado e tudo o que dentro do meu coração vive indefeso vai voltar a ser feliz.
Porque às vezes é preciso mudar.

9.3.08

O amor é uma estrada da qual não se vê o fim.
Ela pode ser curta como um instante
Ou ser comprida como a própria vida.
Ela pode criar a ilusão de ser absoluta na fugaz
Realidade emprestada, ou, por fim...
Apenas um bocado do quase nada que restar.
O amor pode tudo se o invejoso despeito deixar;
Uma maçã grávida lançada no infinito
Chocando a serpente dentro dela...
Ele pode ser o louvor de todos os sentimentos,
E a penitência para o pecado não cometido.
Tem sido assim desde o princípio no paraíso,
Como um mal preciso ao equilíbrio universal.
Pode ser o grito do peito rasgando a camisa...
A verdade sem sentido de quem mente...
A brisa agonizante quebrando a vidraça da janela,
Ou o juramento de amar para sempre.
O amor pode ter a ordem ou desordem confusa...
Luz difusa de palavras habituando a alma
À ilusão do eternamente.
Nalgum lugar do caminho, uma mancha o aguarda.
Oculta, nas sombras da indiferença, ela espreita...
Quando os enamorados tardam em promessas,
Ela, que tem pressa, se aproxima crescendo
Faminta de desamor e lança dolorosas suspeitas.
Um clarão, vindo nunca se saberá de onde,
Vem com intensidade e desfaz a luz que parecia
Ser tamanha e abocanha sonhos...
A labareda das ventas do dragão queima o amor,
E o sangra...
O tomba...
E, sem dó, o reduz a pó,
E semeia a dor na paz que era do coração...
E a escuridão onde havia apenas uma sombra.
Um vento vindo da eclosão calada dos mistérios,
Vem e leva a poeira dos desejos veementes,
Para o silêncio da resignação sem esperanças,
E reduz tudo ao nada, friamente...sem piedade...
Porém resiste uma lembrança gravada para sempre,
No distúrbio quase demente do sofrimento.
Assim tem sido,
E assim será, independente da nossa vontade.















A.M.F.

17.2.08

Os dias doem quando há demasiada gente lá fora e te sentes o único, o único que é diferente.
Quando os dias que passam no calendário, não fazem mais diferença na tua pele...
Porque o tempo já não passa, e por isso, já não conta.
Quando te sentes fora dos planos que o Mundo tem para o dia de amanhã,
...quando te sentes afastado, longe demais para conseguires chegar sozinho...e sem convite.
Há dias que doem, uma dor de dois gumes, um que só quer acabar com a falta de sentido e o desperdício de tempo, outro que quer viver mais um dia na esperança de uma mão que lhe estenda...

...um convite para ser feliz.

20.1.08

...vazio...
...e nada mais que isso

20.12.07

Quero
Com quanta força tenho
Ser paciente com tudo o que dentro do meu coração não foi ainda resolvido
Forço-me a gostar das minhas próprias interrogações
Como se de quartos fechados se tratassem
Ou de livros escritos numa língua estranha
Não procuro as respostas que não me podem ser dadas
Porque não sería capaz de vivê-las

Talvez possa assim viver
Até ao dia em que entre na resposta