27.2.06

O mais breve ensaio sobre a cegueira

Parece-me que andamos todos trocados. Parece que andamos todos em sentido contrário. Aos tombos e encontrões, como cegos. Parece-me que invertemos as prioridades, que nos baralhámos no timming de viver a coisa certa no momento certo. Às vezes dá-me a sensação - que quase vira certeza - de que andamos de olhos fechados em pleno dia e de noite os abrimos com toda a força e vontade de ver no escuro o que esteve lá o dia todo... mesmo à nossa frente, na luz. E assim estamos sempre cegos. Não se aproveitam - porque não se vêem - as oportunidades que surgem, e depois vem o queixume tão conhecido e por todos já dito..."não tenho sorte nenhuma...". Não tem nada a ver com sorte ou falta dela. O problema é não estarmos despertos, não abrirmos os olhos para o que nos rodeia. Para as oportunidades de sermos felizes... que surgem todos os dias.
E nisto, gera-se aquela insatisfação, aquela frustração de sentirmos que há qualquer coisa errada nas nossas vidas - na qual esbarramos incansavelmente, como cegos - mas que não sabemos o que é, ou que sabemos perfeitamente o que é mas não convém assumir que se sabe o que é... porque não se tem a coragem necessária para mudar. Para abrir os olhos. E ser feliz.

Ouvir falar do que só se pode sentir


Ouvi falar daquilo que não se fala... só se pode sentir. Aquilo que não há palavras que possam exprimir... Aquilo que é um sentimento, precioso, forte, raro, mal tratado e que virou a melhor desculpa para quase tudo o que se faz de errado... E diz-se: é por Amor.
Tretas.
As pessoas que escutei falaram, falaram, perfeitos na sua teoria, cheios de explicações e experiências comprovativas. Uns mais fundamentalistas, outros talvez um pouco mais abertos à mudança... de opinião acerca do que poderá (vir a) ser o tal de Amor. Ouvi falar de tudo o que, dentro da tematica do bendito Amor, se pode falar. Relações de todo o tipo, duração e natureza, casamento, adultério, parentalidade, infidelidade, traição, poligamia, mentira, fantasia, sexo e até incesto. Um turbilhão de coisas se passaram na minha cabeça. À medida que ía ouvindo tentava retirar o verdadeiramente importante do que se ía dizendo. E no fim... pude tirar as minhas próprias conclusões. A saber...
... O Amor (que só por respeito por aquilo que um dia terá sido, o escrevo com maiúscula) será um grande erro. Uma armadilha da vida. Tira-nos a racionalidade, o bom senso... até o, cada vez mais necessário, egoísmo. Só nos faz tropeçar, para nos ver cair e testar a nossa força no levantar do chão. Ou não. Quando o vivemos só o queremos tirar de dentro de nós, quando não o sentimos só o queremos encontrar... Porque é de um doce-amargo que não nos deixa decidir, porque nos vicia na substância boa de sentir a correr nas nossas veias, porque só assim o beijo faz sentido, porque as lágrimas se tornam mais quentes, porque nos faz sentir atordoados, enlouquecidos e nós até gostamos... de cair.

What you see, is what you get


Sem tirar nem pôr...
Não há nada a acrescentar...
Não há nada que se possa dizer...
Não há nada que possa alterar o que vês...
O que vier depois é pura fantasia...
...Não existe nada, para além do que vês no espelho.